sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Movimento social, processo educativo e luta

Fernando José Martins

Há um significativo movimento grevista nacional ocorrendo em quase todas as  instituições de ensino superior brasileiras, movimentos em universidades estaduais, bem como em demais categorias profissionais. Movimento significativo, “escondido” pelos meios de comunicação de massa, contudo, de significativa relevância educativa para os sujeitos que o constituem, pois se trata de um processo que gera no interior das lutas, aprendizados de várias ordens: jurídico, relacional, epistemológico, ético, político, social, entre outros.

Alguns analistas questionam a inserção da greve no conceito de movimento social, em virtude de sua estrutura temporária e de organização efêmera. Porém, de acordo com as sínteses de estudiosos que dizem: “Movimentos Sociais são ações sociopolíticas construídas por atores sociais coletivos pertencentes a diferentes classes e camadas sociais, articuladas em certos cenários da conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força social na sociedade civil.” (GOHN, 1997, p.251) e de acordo também com outros analistas que concordam com as seguintes premissas, pode-se indicar que a greve cumpre as características acima.

Ocorre que, em um processo complexo como é a greve, há distinções e desafios que se acentuam. Portanto, o uso e a prática de uma categoria são essenciais para a compreensão e ação coletiva no movimento de greve: a categoria classe. Na sociedade capitalista, todos trabalhadores, públicos ou privados, são membros da classe trabalhadora. É justamente o sistema que tende a dividir essa classe. Independente dos setores, servidores, técnicos, professores, acadêmicos (e seus femininos, claro!!) em uma greve, em um movimento, e, sobretudo, na sociedade de classes, todos esses sujeitos pertencem à mesma classe trabalhadora. Assumir essa identidade coletiva é um passo importante para o êxito do movimento.

Todos esses setores (de uma classe só) sofrem oprimidos pela mesma fonte: o Estado, que sob o capitalismo, está subjugado por esse sistema. Vale ressaltar que uma das estratégias de desmobilização do movimento é justamente dividi-lo em categorias distintas. Como diria Maquiavel: dividir para reinar.

Ter clareza “contra quem” e com quem se faz um movimento é imprescindível. No que fora apontado, é necessário explicitar que, no caso universitário, quando o Estado sonega condições de trabalho, remuneração justa, estrutura universitária, sonega o avanço da ciência e tecnologia para a sociedade, sonega, ações de extensão que chegam diretamente à comunidade local, freia o desenvolvimento local.

E por quê? Quem ganha com isso é justamente o mercado. Ele cresce, as universidades, faculdades e institutos privados ganham força; a pesquisa, serviços estruturais que seriam públicos, são assumidos cada vez mais pela iniciativa privada, gerando lucros para alguns e custos para todos! Um simples olhar no resumo do senso da educação superior de 2010 pode-se constatar que 88,3% das instituições de ensino superior são privadas. O dado é de 2010. Certamente, hoje, já se intensificou.

Por fim, vale ressaltar o caráter educativo de um movimento como a greve, os processos de formação, debates, deliberações que são presentes entre os sujeitos que participam. E, o que é mais importante, a relação que se deve buscar com a sociedade como um todo. Fazer greve é dolorido para os sujeitos que participam e, por isso, as estratégias de ação devem amenizar esse sofrimento. Ao socializar os motivos e objetivos da greve, é necessário também socializar a função social da instituição na qual estamos inseridos. É importante aproximar a Universidade da sociedade local e contar com a adesão dela nesse processo de luta, partilhar, não só as pretensões que a mídia veicula - salários! Mostrar que a greve, além do plano de cargos, carreira e salário, quer ajudar no processo de democratização da universidade e, consequentemente, tornar essa universidade, instituto, faculdade, cada vez mais importante para a sociedade.

GOHN, Maria da Glória. Teorias dos Movimentos Sociais: Paradigmas Clássicos e Contemporâneos. São Paulo: Loyola, 1997.

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